terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Panis et Circencis - Caetano Veloso e Gilberto Gil




Caetano Veloso e Gilberto Gil causaram grande impacto em suas apresentações no III Festival de Música Popular da TV Record, no ano de 1967. Ali, foram lançadas as bases para o Tropicalismo em sua versão musical - um movimento que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais daquela época, como correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o Rock e o Concretismo). Antes de fins sociais e políticos, a Tropicália foi um movimento nitidamente estético e comportamental.

Em maio de 1968, começaram as gravações do álbum que seria o manifesto musical do movimento, do qual participaram artistas como Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé - além dos poetas Capinan e Torquato Neto e do maestro Rogério Duprat (reponsável pelos arranjos do LP).

A faixa-título é interpretada pelo grupo paulista Os Mutantes, com sinais nítidos do conjunto: a psicodelia.

O LP foi eleito em uma lista da versão brasileira da revista Rolling Stone como o segundo melhor disco brasileiro de todos os tempos."
by Wikipedia



A Política do Pão e Circo

Panis et Circencis é um termo em latim que significa a frase "Pão e Circo" que é como ficou conhecida a política adotada pelo império Romano, que consistia em alienar a população recém chegada do campo àquela grande metrópole, com diversão e alimentação. Todos os dias havia lutas entre gladiadores nas arenas, como o coliseu, e nestas batalhas era distribuido comida para todos, então teriam diversão e comida para diminuir qualquer possibilidade de revolta contra o império.

No Brasil, em 1967, Caetano e Gil tentavam subliminarmente adequar a idéia, pois a propaganda massificante da ditadura, bem como as ferramentas alienantes por ela proporcionada, criavam condições para a alienação da população, e retratava similaridades com aquele período Romano.

Esta canção retratava sem qualquer pudor a insatisfação que os compositores sentiam vendo pequena parcela da classe artística empenhada em revoltar-se contra o Estado militar, enquanto a grande maioria preocupava-se apenas em "viver", de forma passiva frente às atrocidades que acometia o País. Muito disso é retratado no refão da música: "Mas as pessoas da sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer"



Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos
Sobre os mastros no ar
Soltei os tigres
E leões nos quintais
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

Mandei fazer
De puro aço luminoso punhal
Para matar o meu amor e matei
Às 5 horas na Avenida Central
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer..

Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes, procurar, procurar...

Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

Mas as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...



"Soltei os panos sobre os mastros no ar"... refere-se às bandeiras (nacional e outras) tão cultuadas no Estado Militar. O fato de soltar no ar os panos que estão sobre os mastros, seria uma "agressão" ao espírito nacionalista dos militares, então, uma forma de afronta.

“Mandei plantar folhas de sonho no jardim do solar...”, alusão “alucinógena” ao Solar da Fome, pensionato dos artistas recém chegados ao Rio de Janeiro

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