sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Meu Caro Amigo - Chico Buarque e Francis Hime



Esta música, em forma de choro, cuja gravação original daria-se apenas por pandeiro, violão e piano (magníficamente tocado por Francis Hime) é uma canção em forma de carta, onde Chico passea com ar irônico e de lamento pelo momento político vivenciado em 1976.
Chico informa em linhas gerais que a ditadura ainda estava à todo vapor, com a censura ferrenha e com apologias a artifícios considerados alienantes tal como futebol, samba, choro e Rock´n Roll (lêia-se neste último, Jovem Guarda).

Com relação à censura, Chico expõe irônicamente no verso: "É pirueta pra cavar o ganha-pão Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro(...)". Nele nota-se a mesma "pirueta" com a utilização de metáforas para fazer passar despercebido e ileso na mão dos censores.


Ainda com relação a este tema, em outro verso Chico expõe mais uma vez a difícil relação entre ele e a ditadura: "Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se me permitem, vou tentar lhe remeter Notícias frescas nesse disco (...)"


No mais, é esta, uma música que auto-explicita de forma lírica, irônica e crua o momento vivido em 1976.




Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal Adeus

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