quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Apesar de Você - Chico Buarque



"Apesar de você" é uma canção escrita e originalmente interpretada por Chico Buarque de Hollanda em 1970. A canção, por implicitamente lidar com a questão da falta de liberdade durante a época da ditadura militar, foi proibida de ser executada pelas rádios no Brasil pelo governo Médici. No entanto, foi liberada no governo do presidente João Figueiredo. Em março de 1970, Buarque retornou ao Brasil após o exílio de mais de um ano na Itália. Seu retorno foi influenciado por André Midani, diretor de sua gravadora, que lhe assegurava "estar melhorando a situação no Brasil". Mas ao chegar, descobriu o contrário: a situação do país piorara e externou seu desapontamento escrevendo "Apesar de você", uma crítica à ditadura disfarçada de briga de namorados. Ao enviar a canção para o departamento de censura, Chico imaginou que a canção não seria aprovada, mas foi. A canção foi lançada às radios e o compacto simples atingiu a marca das cem mil cópias vendidas. No auge de seu sucesso a canção foi denunciada e o governo imediatamente proibiu sua execução pública. Oficiais do governo invadiram a gravadora de Chico, recolheram e destruiram as cópias restantes do disco. O censor que aprovou a canção também foi punido. Os oficiais do governo, no entanto, não destruíram a matriz, o que possibilitou a reedição do disco original. Num interrogatório, perguntaram a Chico quem era o você do título. "É uma mulher muito mandona, muito autoritária", respondeu. A censura de "Apesar de você" teve um impacto negativo no relacionamento entre Chico e os censores, que duraria até o final da ditadura. Chico seria implacavelmente marcado pelos censores, sofrendo suas letras as mais absurdas rejeições. A situação chegou ao ponto de ele se disfarçar, sob os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva, para aprovar três composições, uma das quais, "Acorda Amor", incluída no LP Sinal Fechado, em 1974. Descoberta a farsa, a censura criou novas exigências: toda letra apresentada teria que ser acompanhada de cópias da carteira de identidade e do CPF do compositor.
Wikipedia



Letra:
Hoje você é quem manda

Falou, tá falado Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros.
Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir
E esse dia há de virantes do que você pensa.
Apesar de você
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiáÂ…Â….


Análise:

"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não."


Este trecho demonstra a forma de governo do então presidente do país o General Emilio Garrastazu Médici, a forma autoritária e tirana que o governo militar estabelecia naquele momento.


"A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão"


Mostra como estava a auto-estima dos cidadãos brasileiros bem como a impossibilidade de expor de público as opiniões sobre os mais diversos assuntos concernentes à república, tais como política, economia, literatura, cinema, teatro, coisas que nos dias de hoje seriam impensávei de não ser conversados nos botequins da cidade.



"Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão."


Quando Chico diz este Estado, o fala num propósito dúbio, de Estado (governo) e estado (de tensão e repressão).


"Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar."


Chico profetizava que num futuro próximo este, que no governo estava, não mais teria influência na vida das pessoas e que o Brasil seria um país democrático como de fato o é hoje em dia. Utilizando-se de metáforas, constragia a autoridade fazendo questionamentos aparentemente fúteis do cotidiano para expressar que todo o autoritarismo de hoje de nada valeria amanhã.

Chico segue durante toda a música, levantando estes questionamentos e concluindo sempre que num futuro a ordem social imposta pelos militares seriam contestadas veementemente e todo o povo cantaria a democracia, como de fato aconteceu nas Diretas Já e até hoje ocorre em todas as manifestações políticas e culturais do país.
Link para a música:

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