sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Acorda Amor - Leonel Paiva e Julinho de Adelaide (Chico Buarque)



Esta música escancara o terror psicológico propagado pela ditadura a quem se opunha ao governo naquele momento, 1974. Chico Buarque acompanhado por Leonel Paiva compôs utilizando-se de um pseudônimo - Julinho de Adelaide - esta peça da MPB.
Após a letra, posto trecho de nota sobre esta música e sobre o próprio Julinho de Adelaide, feita por Humberto Werneck, no livro "Chico Buarque Letras e Músicas - 1997"




Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão

Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão

Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer

Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)

Nota por Humberto Werneck

"Depois de Calabar, Chico percebeu que seria difícil passar alguma coisa com o seu nome. O jeito, descobriu, era disfarçar-se num pseudônimo. Nascia Julinho da Adelaide, compositor mais falante que prolífico, autor de três canções: Acorda amor, Jorge Maravilha e Milagre brasileiro. Como a Censura nada tinha contra Julinho, sua criações passavam tranqüilamente. Pouco se sabia a seu respeito até que Chico, em setembro de 1974, entrou na pele da personagem e deu uma longa entrevista ao teatrólogo Mário Prata e ao jornalista Melchíades Cunha Jr., para a edição paulista de Última Hora.O texto da entrevista não registra a colaboração do pai de Chico, que garimpou em seus livros a foto de uma mulher negra, muito bonita. Saiu no jornal com a legenda "Adelaide na época de Orfeu Negro e da Brasiliana". Mas não foi apenas com seu rosto que a mãe de Julinho apareceu na imprensa. Em 1975, a boa senhora começou a fazer palavras cruzadas, que enviava ao cruzadista do Jornal do Brasil, Carlos Silva. Ao encaminhar a primeira, Adelaide de Oliveira Kuntz mandou também uma carta onde ressaltava a importância desse hobby em sua vida - "um agradabilíssimo passatempo e um conforto para quem, como eu, está irremediavelmente condenada a uma cadeira de rodas". Carlos Silva, um cavalheiro, não apenas publicou a criação como acrescentou uma palavrinha de estímulo: "Seu primeiro problema está muito bom e esperamos que seja o início de ótimas produções." Chico diz que apesar disso ela ficou um tanto aborrecida com Carlos Silva, que corrigiu o seu problema - trocou "ratificará" por "ratificada", por exemplo.Numa carta a Mário Prata, por essa época, Chico explicou que Adelaide se tornou cruzadista ao ficar paralítica, e que ficou paralítica ao perder o filho. Julinho morreu, de fato, naquele ano de 1975, ao ser desmascarado numa reportagem do Jornal do Brasil sobre censura. Depois dessa revelação desmoralizante, a Polícia Federal passou a exigir que as músicas submetidas à sua aprovação fossem acompanhadas de cópia dos documentos do compositor.Por motivo de falecimento, Julinho da Adelaide não chegou a mandar para Brasília a sua criação número três: O milagre brasileiro (gravada tempos depois por Miúcha).


© Copyright Humberto Werneck in Chico Buarque Letra e Música, Cia da Letras, 1989

Link para a música:

http://b.radio.musica.uol.com.br/radio/index.php?ad=on&ref=Musica&busca=acorda+amor&param1=homebusca&q=acorda+amor&check=musica&x=25&y=2

Nenhum comentário: