quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Samba de Orly


Nesta composição conjunta entre, Chico Buarque (que viria a ser o sujeito da ação), Toquinho (o "irmão" que viajaria voltando para o Rio de Janeiro) e Vinícius de Morais, nota-se o tom de despedida e a melancolia que se abatia sobre o sujeito, que se encontrava exilado na Europa.

Esta melancolia a princípio se analisada superficialmente, se secundariza devido ao ritmo introduzido por toquinho, como o próprio nome já expõe, um samba. Aliás, o prórpio nome da música já revela uma dualidade interessante, um samba para expor um sofrimento pela distância de sua terra natal.

Os motivos desta distância a letra em determinado momento justifica de forma singela, mas ao mesmo tempo acusatória, quando "pede perdão pela omissão um tanto forçada".

Enfim, é mais uma bela música composta num momento de privação da democracia.






Vai, meu irmão
Pega esse avião
Você tem razão de correr assim
Desse frio, mas beija
O meu Rio de Janeiro
Antes que um aventureiro
Lance mão

Pede perdão
Pela duração dessa temporada
Mas não diga nada
Que me viu chorando
E pros da pesada
Diz que vou levando
Vê como é que anda
Aquela vida à toa
E se puder me manda
Uma notícia boa

Pede perdão
Pela omissão um tanto forçada
Mas não diga nada
Que me viu chorando
E pros da pesada
Diz que vou levando
Vê como é que anda
Aquela vida à toa
Se puder me manda
Uma notícia boa




Nota de Humberto Werneck :


Juntos, viram o homem pisar pela primeira vez na Lua, em julho de 1969. À distância, acompanharam o surgimento da luta armada no Brasil, o primeiro seqüestro de um embaixador estrangeiro para obter a libertação de prisioneiros políticos, o dramático esfarinhamento da esquerda brasileira em miríades de grupúsculos. Em novembro, Toquinho resolveu voltar. No último dia, foi ao apartamento de Chico e lhe mostrou um samba ainda sem letra. Só então teve coragem de contar que estava partindo. "Fiz essa música de saudade mesmo", disse, "vou embora amanhã". Era o Samba de Orly, com todo aquele clima de exílio, de impossibilidade. Toquinho conta que Chico fez na hora os versos finais:E diz como é que anda aquela vida à toa e se puder me mandauma notícia boa. Bem depois, quando estava preparando o LP Construção, Chico convidou Vinícius para ajudar na letra. Três dos versos que o poeta escreveu:pede perdão pela omissão um tanto forçada seriam podados pela censura. "Omissão" teve que virar "duração", e "um tanto forçada" deu lugar a "dessa temporada".


© Copyright Humberto Werneck in Chico Buarque Letra e Música, Cia da Letras, 1989

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